José Sarney deve estar vivendo o pior dos infernos astrais, mergulhado em denúncias que aparecem a cada dia, agora perdeu o apoio político do PT e, surpreendemente, ou nem tanto assim, do presidente Lula, que até semana passada o defendia com unhas em dentes, mas que agora tira o corpo fora.
O comportamento de Lula não é inédito, vide os episódios de José Dirceu e Antônio Palocci, que quando ministros também se envolveram em escândalos, foram também inicialmente defendidos por Lula, mas foram posteriormente abandonados à própria sorte quando o presidente viu que a defesa lhe custava caro à sua avaliação, o que acontece agora novamente.
Ambos renunciaram aos seus mandatos de ministros, caminho semelhante que deve acontecer com Sarney, que deverá renunciar ao mandato de presidente do senado federal a fim de evitar sua cassação como senador e diminuir a avalanche de denúncias, que atingem a si próprio e a sua família, a qual já pediu que o Senador renunciasse.
O recesso parlamentar acaba na próxima terça-feira, Sarney se encontrará com Lula na segunda-feira para anunciar sua decisão, que será divulgada publicamente alguns dias depois. Com isso, cabe agora à cambaleante base governista procurar um sucessor, que provavelmente não sairá da tropa de choque de Sarney, e talvez até da oposição, o que, felizmente, poderá dar ares novos ao Senado que, enfim, poderá voltar a trabalhar, coisa que não acontece desde que Sarney foi eleito seu presidente.
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?
E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?
De Carlos Drumond de Andrade
sexta-feira, 31 de julho de 2009
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