sexta-feira, 17 de julho de 2009

Informações de saúde - Parte 4

A varíola é uma moléstia extinta desde 1974, tendo o último caso sido notificado na Somália. Contudo, devido a sua transmissibilidade rápida, letalidade razoável, inexistência de defesas em humanos e existência de cópias virais em laboratórios e a possibilidade de um vírus simiesco ocupar o nicho deixado livre pela varíola, coloca esta doença como de alto potencial bioterrista pela OMS e em situação de extrema vigilância para detecção de casos.

A varíola é uma doença conhecida há séculos, havendo ilustrações até em sarcófagos egípcios. É uma doença transmitida pelo vírus Poxvirus variolae, o maior vírus existente, sendo o único visualizável em microscopia óptica. Há vírus semelhantes que causam doença em macacos e que já causou doença similar à varíola em humanos no antigo Zaire.

A transmissão do vírus ocorre pelas vias respiratórias através de perdigotos infectados, havendo a entrada do vírus na mucosa respiratória e replicação local. A partir de então, atinge a circulação linfática e linfonodos, quando há uma nova replicação e atinge órgãos ricos em sistema retículo-endotelial (baço, fígado, medula óssea), onde há uma franca replicação, quando há, então, uma viremia que acarreta em sintomas pródromos, após cerca de 15 dias da entrada do vírus.

As manifestações clínicas dividem-se em toxemia e exantema. A toxemia, que dua de 3 a 4 dias, caracteriza-se, principalmente, por febre, cefaléia, dor e mal-estar geral, podendo ser antes ou durante o exantema. Este, que dura até 3 semanas, caracteriza-se por lesões proliferativas na pele que ocorrem nesta seqüência: mácula, pápula, vesicula, pústula, crosta e cicatriz, de distribuição centrífuga, com umbilicação central e nunca havendo lesões em estágios diferentes em um mesmo segmento (principal diferenciação com a varicela, ou catapora como conhecida popularmente).

Embora o principal órgão acometido seja a pele, onde pode deixar lesões cicatriciais permanentes, outros órgãos podem ser comprometidos, como pulmões, vias aéreas superiores, rins e testículos. As formas hemorrágicas, embora incomuns, provocam hemorragias severas e são altamente letais. No geral, a letalidade é de 20%. A forma com acometimento apenas da pele é denominada de varíola minor, já quando há hemorragias em órgãos internos é denominada de varíola major.

O diagnóstico é feito pela microscopia eletrônica, imunofluorescência, detecção de antígenos, sorologia, biópsia de lesões ou identificação viral. Os exames diagnósticos encontram-se em poder do CDC, que deve ser acionado em qualquer lugar do mundo em caso de suspeita clínica de varíola.

Não há tratamento específico, devendo-se focar no tratamento de sintomas, boa nutrição e profilaxia de infecções secundárias. Nos casos graves deve ser estabelecida respiração artificial. Recomenda-se internação em quarto com pressão de ar negativa, em todos os casos, por 14 dias, pelo menos. A transmissibilidade ocorre do início dos sintomas da toxemia até a formação de crostas nas lesões. Os profissionais de saúde devem usar máscaras N95

A profilaxia é feita por vacina, que é aplicada por via intramuscular e é constituída por vírus enfraquecido que acomete os bovinos, dando nestes a vacinia. Foi a primeira forma de imunização ativa descoberta, o que ocorreu no século XVIII por Jenner, que observou que indivíduos que tinham contatos com vacas acometidas por vacinia não desenvolviam varíola. A vacinação em massa contra a varíola foi o primeiro programa de imunização mundial bem sucedido liderado pela OMS em prol da extinção de uma doença. A vacinação foi interrompida em humanos ao fim da década de 1970, a fim de evitar a reversão vacinal e introdução de doença semelhante. Com isso, atualmente, apenas profissionais de saúde que trabalham com pesquisas laboratoriais envolvendo a manipulação do vírus da varíola que devem receber a vacinação.

O vírus da varíola, atualmente, é encontrado em dois laboratórios de segurança máxima (nível 4 de segurança) nos Estados Unidos (no CDC) e na Rússia, todos os demais países destruíram as amostras que possuíam. Este armazenamento é uma medida de segurança para que haja uma produção em massa de vacinas em caso de ressurgimento da doença, que pode ocorrer pela ocupação do nicho por vírus semelhantes que acometem outros animais e que poderiam acometer humanos após mutações, e também em caso de ter havido desvio de amostras virais na ex-URSS (ou dos próprios laboratórios em que são armazenados atualmente) e que sejam utilizadas em atos bioterroristas.

Como a população não está preparada sorologicamente para uma epidemia de varíola e nem os médicos atuais estão preparados para o reconhecimento rápidos de casos e há atualmente a AIDS, os efeitos de uma eventual epidemia seriam catastróficos, devido a letalidade de 20% (maior que a leptospirose e 50x maior que a nova gripe A, por exemplo) e a transmissibilidade equiparável a da gripe sazonal (que acomete mais de 500 milhões de pessoas por ano).

Fontes de consulta:
Principles and Practices of Infectious Diseases - Mandell
Tratado de Infectologia - Veronesi

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