Pretendo trazer aqui informações sobre doenças e práticas saudáveis, na medida que os meus conhecimentos permitem. Para começar, falarei sobre DSTs, trazendo história, epidemiologia, dentre outros. Para iniciar, escolherei o HIV/AIDS, devido a relevância epidemiológica e também a confusão que muitos possuem acerca do tema.
O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) foi descoberto na década de 1980, por pesquisadores franceses e norte-americanos, mas alguns estudos demonstram que o vírus já circula desde a década de 1960 e, talvez, até mesmo 1950. Acredita-se que o vírus que afeta humanos seja uma mutação de um que afetava o sistema imunológico de símios africanos e que foi transmitido de alguma forma para humanos, seja por ingestão de carne, contato com sangue do animal ou até mesmo por práticas zoofílicas.
Assim, uma vez presente em humanos, o vírus foi sendo transmitido por tribos africanas e outros habitantes do continente, até que atingiu prostitutas e michês locais que, ao terem contato com turistas, transmitiram o vírus para norte-americanos, os quais ao voltarem para os Estados Unidos começaram com a cadeia de transmissão epidemiológica no país, ganhando notoriedade a infecção de homens que mantinham sexo com homens em São Francisco.
A suspeita de uma nova doença só foi possível graças aos excelentes serviços do CDC (Center of Diseases Control) que detectou uma série de doenças raras até então relacionadas a estágios extremos de imunodepressão (como em transplantados, portadores de cânceres e doenças genéticas), dentre elas o Sarcoma de Kaposi, em número maior do que o previsto e afetando essencialmente homens que faziam sexo com homens em um mesmo bairro de São Francisco. Então, o CDC em 1981 caracterizou a nova doença como a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Humana, na sigla em inglês), sendo de transmissão por via sexual e, até então, restrita a homossexuais ou bissexuais, sendo que o agente biológico responsável pela doença era até então desconhecido. Somente em 1983 descobriu-se que a doença era conseqüência da infecção por um novo vírus, que passou a ser denominado por HIV. Foi então que começou a surgir também novos casos, em mulheres, homens heterossexuais e em indivíduos que realizaram hemotransfusão.
O HIV é transmitido pela via sexual através de secreções vaginais e sêmen, além de contato com sangue infectado em mucosas (olhos, boca, genitais), via vertical, por leite materno e via parenteral (transfusão sangüínea, compartilhamento de seringas com sangue infectado e acidentes biológicos). O contato com saliva, lágrimas, suor não transmite o vírus, exceto se houver sangue no líquido. As chances de um homem transmitir para uma mulher através da relação sexual são exatamente as mesmas que o contrário, sendo maiores as chances no coito anal e menores no oral. A transfusão sangüínea é o meio mais eficaz de transmissão do vírus, mas graças aos testes sensíveis dos bancos de sangue praticamente não há mais casos relacionados a esta forma de contágio.
Após a infecção o vírus se aloja em linfonodos locais, como na região inguinal no caso da transmissão sexual, e replica-se, havendo, então, uma viremia dentro de 7 a 28 dias após a infecção, o que pode levar a síndrome retroviral aguda, que pode apresentar uma ou várias das seguintes manifestações: gânglios aumentados e indolores, febre, prostração, falta de apetite, dor na garganta, aftas, diarréia e, raramente, candidíase oral, pneumonia e exantema. Esta fase pode durar de 2 a 6 semanas, desaparecendo espontamente.
De 14 a 60 dias, em média, há o aparecimento de anticorpos contra o vírus, o que é denominado de soroconversão, que é detectada pelos exames sorológicos, sendo o portador destes anticorpos denominado de soropositivo para o HIV.
Após a síndrome retroviral aguda o indivíduo entra em um estágio de portador latente. Durante esta fase, o HIV habita linfonodos, principalmente cervicais, o que pode levar uma linfadenopatia regional persistente, único sintoma mais comum de aparecer nesta fase (raramente febre pode ocorrer). Durante esta fase há uma briga persistente entre o HIV e a defesa celular do indivíduo, o que resultará, entre 4 a 10 anos após a infecção, em uma destruição exacerbada de células CD 4 (Linfócitos T Helper), que leva a uma imunodepressão severa.
Quando o número de células CD 4 ficar abaixo de 200 células por mm3 de sangue ou quando houver o aparecimento de doenças caracterizadoras é diagnosticada a AIDS. A partir deste momento, então, o indivíduo deverá fazer uso indefinidamente o coquetel anti-retroviral (terapia HAART). A administração de anti-retrovirais também é indicada, fora desta fase, em grávidas e profissionais de saúde que se acidentaram com material biológico potencialmente ou sabidamente infectado pelo HIV.
Assim, a AIDS é uma doença desenvolvida a partir da infecção de HIV, a qual ocorre de 4 a 10 anos após a infecção pelo vírus. Inclusive, em raros casos, presentes principalmente no continente africano, indivíduos portadores de um gene modificado para co-receptores de CD4 apesar de se infectarem pelo HIV nunca irão manifestar a AIDS, pois o vírus não é capaz de entrar na célula de defesa e destruí-la. O estudo destes indivíduos, inclusive, levou ao desenvolvimento de uma nova droga, o maraviroc, que foi recentemente aprovado pelo FDA e é uma alternativa para casos de resistência viral
Há 2 tipos de vírus HIV, o HIV-1 e o HIV-2, sendo o primeiro amplamente mais comum. O HIV vive, em média, 90 minutos fora do organismo humano.
O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito pelo teste ELISA em uma amostra de sangue, devendo ser confirmado pela realização do Western-Blot em uma nova amostra, a fim de evitar reações cruzadas que raramente podem ocorrer e a troca de amostra. Pelas técnicas atuais, o resultado é extremamente confiável após 60 dias do contato de risco. O teste pode ser feito gratuitamente no Brasil em Centros de Testagem Anônima (CTA) e demora cerca de 5 dias para sair o resultado. Pode ser realizada também a testagem rápida em ELISA (resultado em até 1 hora) em laboratórios particulares, em emergências médicas quando se suspeita de síndrome retroviral aguda e em CTA quando se acredita que o paciente não voltará para buscar o resultado.
Uma vez diagnosticado como portador de HIV, o paciente deve ser acompanhado por médico especialista em Infectologia para a realização semestral ou trimestral de exames, que ditarão a conduta médica em relação ao início da terapia antiretroviral e profilaxia de doenças oportunistas, que aumentam em muito a sobrevida do paciente em relação àqueles que não fazem uso (hoje pode-se viver mais de 20 anos após a infecção pelo HIV contra menos de 8 anos antes da terapia HAART).
A prevenção é feita pelo uso de preservativos em todas as relações sexuais, inclusive o sexo oral, evitar o uso de seringas compartilhadas e o não-aleitamento materno por mulheres sabidamente infectadas. Há também profilaxias possíveis na gestação e após acidentes biológicos. Acredita-se atualmente que a postectomia é altamente eficaz na prevenção do contágio para o homem.
A epidemiologia atual do vírus demonstra cerca de 35 milhões de infectados e 2 milhões de mortes anuais em todo o mundo, sendo que a África é responsável por 2/3 dos casos. A América Latina é a 3a região mais afetada no mundo, tendo o Brasil como maior responsável pelos casos, com cerca de 600 mil indivíduos infectados no país. No Brasil, há uma tendência a maior incidência e prevalência em mulheres, inclusive entre os 18 e 24 anos já há maior número de mulheres infectadas do que homens, além do aumento em indivíduos acima dos 60 anos.
O Brasil é reconhecido mundialmente por sua política pública de distribuição gratuita de preservativos, seringas descartáveis e da terapia anti-retroviral, política iniciada na gestão FHC, sob o comando do então Ministro da Saúde, José Serra.
Pesquisas acerca do desenvolvimento de vacinas, embora sejam sempre uma esperança para um dia acabar com a transmissão do vírus, como foi extinta a varíola e para tal caminha a poliomielite, ainda engatinham e os estudos mais avançados, infelizmente, fracassaram. Há uma gama de novos medicamentos que são utilizados conforme a resistência do vírus à terapia tradicional. Há também estudos em vigor para o desenvolvimento de novas classes de drogas para o controle da AIDS, que passou a ser uma condição crônica como o diabetes e a hipertensão. Mas, por enquanto, a cura não está perto de ser alcançada e a melhor forma para evitar o HIV (e a AIDS) é a conscientização e prevenção!
quarta-feira, 8 de julho de 2009
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